"À Paris, j’ai sous les yeux les cinq mille hectares du monde où il a été le plus pensé, le plus parlé, le plus écrit "1.
Jean Giraudoux
Não é preciso assistir “Casablanca” para saber que “nós sempre teremos Paris”. Ou ler Hemingway para saber que “Paris é uma festa”. Literatura, música, cinema, pintura, antigo ou contemporâneo, muitos tiveram em Paris uma musa inspiradora, um assunto para tratar. Há quem ame, há quem odeie, mas é difícil ser indiferente a ela.
Por aqui, foi em 1999. Ainda era o século XX, a internet era discada e as distâncias ainda eram distantes. A virada pro ano 2000 seria de bug do milênio e adoção do Euro. E eu iria para Paris. A gente voava Varig, usando milhas. Não houve amor à primeira vista, por motivos de enjoo na aterrissagem. Foi uma das poucas vezes que pousei no Charles de Gaulle e também uma das poucas viagens só de cartões postais.
Na primeira passagem pela cidade, descobri que o Louvre fechava às terças-feiras da "melhor" forma possível - batendo a cara na grade de ferro. Fui apresentada ao caracol de “arrondissements”, que traduzimos por distritos ou bairros em português. Aprendi que era importante saber o CEP das ruas, pois os dois números finais indicavam em qual região determinada rua estava e permitia a busca no livrinho “Paris par arrondissement”, que era um apanhado de mapas da cidade. Já o “Pariscope” era a bússola da vida cultural da cidade, uma revistinha que a gente comprava na banca no fim de semana pra saber as exposições em andamento, os horários do cinema e o que estava no teatro. Não me lembro de ter escrito cartas, mas tenho 2 filmes de 36 poses cada com lembranças da minha passagem.
O que me levou até lá foi o amor - tenho uma tia-irmã que mora na França há mais de 20 anos e, em 1999, era o primeiro aniversário do meu primo. E foi pelo mesmo motivo que voltei outras tantas vezes (12, pelas minhas contas, variando de dias a um ano e três meses). Amor, quando alimentado, cresce. Hoje inclui família, amigos, língua, lugares, histórias.
Há pessoas que gostam de conhecer cidades diferentes a cada viagem e há as que gostam de voltar. Eu gosto de retornar, de ter meu café favorito, minha livraria do coração, o restaurante onde fui várias vezes com meus pais, o museu onde ri com minhas amigas. Gosto de saber o mapa da cidade “par coeur”, de minhas pernas saberem sozinhas vários caminhos, de falar bobagens em outra língua.
Não sei quando vou poder voltar a Paris, mas tenho a certeza de que Paris me aguarda. Enquanto isso, resolvi fazer como muitos antes de mim e escrever. Fazer conversar as fotos, as lembranças, os livros e tudo mais que já descobri sobre a cidade e compartilhar com quem, assim como eu, gosta de Paris, quer matar as saudades e planejar a próxima viagem.
O Louvre em foto minha tirada em abril de 2018.
Paris nas palavras de…
Gertrude Stein
“não é o que Paris me dá, é o que Paris não me tira”
ouvi durante um curso da Tayná Saez, do @sutilezasatomicas.
Oscar Niemeyer
"Em Paris, qualquer pessoa circula satisfeita pela cidade. E, se for curiosa, se um dia a história da França a emocionou, com maior interesse ainda percorrerá Paris, onde o passado e o presente se misturam e se valorizam tão bem. E, nesse caso, além das atrações usuais, terá nos museus, nas exposições, nos espetáculos de arte, a distração que só a civilização e a cultura podem oferecer."
do livro “A história do Brasil nas ruas de Paris”, de Maurício Torres Assumpção
Lúcio Costa
"[Em Paris] é como se o fim do mundo se aproximasse, e cada qual procurasse satisfazer um último desejo antes que a vida toda de todo se extinguisse. E temos a impressão que dentro e fora de nós tudo roda e tudo gira. Como o imenso carrossel de uma feira estranha, sombria e monumental. Oh! Grande cidade! Cidade imensa – é tanta coisa para ver, tanta coisa que fazer, que se fica tonto querendo fazer tudo e tudo ver de uma só vez.”
Ernest Hemingway
"Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante”
Do livro “Paris é uma festa”
Victor Hugo
“Respirer Paris, cela conserve l’âme”2
Do site Paris Zig Zag
Que tal abrir algumas janelas pra Paris de hoje?
No Instagram há muitos perfis que ajudam a matar as saudades e dar aquela “espiadinha” na cidade enquanto não dá pra voltar. Os que mais me acompanharam durante a pandemia seguem abaixo:
@pretavoyager - da Anne Ditmeyer, uma designer norte-americana naturalizada francesa que compartilha o dia-a-dia na cidade com muitas dicas fora do comum.
@lostincheeseland - da jornalista Lindsey Tramuta, autora de livros sobre Paris e que está sempre de olho em novidades e na Paris contemporânea
@conexaoparis - talvez o site que eu mais acessei na vida. Tem um excelente conteúdo em blog e sempre posta fotos, vídeos e atualizações sobre as regras para brasileiros viajarem à França durante a pandemia (clica no post acima).
@flanandocomcarol - a Carol é de Belo Horizonte e está morando em Paris. Ela faz fotos e stories lindos mostrando a cidade e tem compartilhado também as viagens que faz pela França. Além disso, é consultora de estilo e dá muitas dicas bacanas de moda.
@anturia - conheci por meio do perfil da Carol. A Antúria é fotógrafa, então se prepare para cliques lindos pela cidade, com cafés que, senhor! Ela também faz muitos passeios de bike, que costuma compartilhar nos stories.
Me conta a sua história com Paris?
Se você conhece alguém que vai gostar dessa carta, por favor...
"Em Paris, tenho diante dos meus olhos os cinco mil hectares do mundo que foram mais pensados, falados, escritos”. Jean Giraudoux - escritor francês, 1882-1944. (tradução minha).
“Respirar Paris conserva a alma" (tradução minha).